Texto por Denise de Oliveira Milbradt/ Fotos divulgação
Quem nunca esqueceu onde deixou as chaves, o que jantou na noite anterior ou mesmo teve dificuldades para responder a alguma pergunta simples, que atire a primeira pedra. Estas são algumas das prováveis consequências do maluco cotidiano em que vivemos. É preciso pensar rápido, assimilar uma grande quantidade de informações e ainda conseguir cumprir agendas cada vez mais abarrotadas de compromissos. O dia é curto, as noites mais curtas ainda. O que muitas pessoas não se dão conta é que se não soubermos cuidar, adequadamente, da mente e do corpo poderemos sofrer, muito em breve, de uma grave doença: a falta de memória.
A exemplo de outras patologias, a ausência de lembranças ou a baixa capacidade cerebral pode ser motivada por uma série de fatores, que ao longo da vida vamos adquirindo pelo caminho. Levar uma vida saudável a partir da prática de exercícios físicos e uma dieta balanceada pode ajudar, mas é preciso também ‘malhar’ seu cérebro, cultivando bons pensamentos e mantendo a mente ocupada na medida certa.
A psiquiatra e coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Cachoeirinha, Eneida Kompinsky explica que a falta de memória é uma das queixas mais comuns no cotidiano e tema de congressos da área médica. Mas, segundo ela, antes é preciso diferenciar uma perda de memória por um longo prazo, e em definitivo, do causado pelo excesso de informações, estresse ou a simples falta de concentração. Em ambos os casos sugere que estejamos, permanentemente, praticando e testando o poder de memorização. Além disso, a médica pondera que a capacidade de registrar, mantê-la evidente em nosso pensamento ou mesmo de memorizá-lo está diretamente ligado ao grau de interesse afetivo. “A capacidade de memorizar está intimamente relacionada ao nível de consciência, atenção e interesse particular de cada cidadão”, confirmou a psiquiatra.
Há alterações de memória, todavia, que são transitórias, podendo ser causada por influências metabólicas, algumas doenças como a tireóide ou mesmo a falta de vitaminas, dentre outros agravantes. As recordações também podem ser influenciadas pelo estado afetivo e psicológico, tais como humor, ansiedade e nervosismo podem comprometer o processamento de novos dados. “Se uma pessoa está bem, ela se concentra melhor e retém elementos de forma precisa, porém se está preocupada, distraída e com várias coisas na cabeça, é mais difícil de registrar”, detalha.
Idosos sofrem as consequências da idade
O envelhecimento cerebral é um processo inevitável, porém postergável através de exercícios físicos e mentais e hábitos saudáveis. Diversas teorias atualmente discutem de que forma o nosso organismo envelhece; a mais aceita diz respeito a um progressivo encurtamento de telômeros, conforme nossas células passam pelas sucessivas mitoses, associado a uma lesão cumulativa causada por radicais livres e processos de oxidação.
O envelhecimento fisiológico é linear e não obrigatoriamente igual em todos os sistemas do corpo humano; cada um inicia seu envelhecimento a um dado momento e perde a sua função (ou demonstra a sua perda de função) em seu próprio ritmo, mas linear.
Já o envelhecimento cerebral apresenta um ritmo especial: quanto mais seu cérebro se envolver em atividades intelectuais, mais tempo ele vai demorar para perder suas conexões e, consequentemente, apresentar uma perda sintomática, tendo em vista sua excepcional capacidade plástica. Inevitavelmente, contudo, o envelhecimento ocorre.
A maioria dos estudos indica que com o passar dos anos, há uma diminuição da memória. Na verdade faz parte de um processo degenerativo como um todo, assim como da pele, articulações etc. Eneida salienta que essa redução não representa uma doença, nem mesmo precisa comprometer comportamentos habituais do dia-a-dia. Se a perda de memória tornar-se um problema é preciso procurar um médico e investigar suas causas. Algumas delas podem estar relacionadas à depressão pelo isolamento e a falta de uma vida social saudável. As vítimas de Alzheimer têm limitada a memória a longo prazo. Além disso, os idosos ainda podem ser vítimas de demências como de Levy, vascular, fronto-temporal, entre outras.
Para a psiquiatra,a prática de exercícios físicos regulares, preferencialmente antes dos 65 anos de idade (quanto mais precoce melhor) pode ajudar a protelar a doença na terceira idade. Outra dica é adotar uma dieta equilibrada, afim de que se evitem agravantes, tais como hipertensão arterial e outros que possam comprometer o sistema cardiovascular. Mas se não houver o estímulo contínuo da atividade cerebral, a partir de interações sociais e atividades intelectuais, como leitura e até mesmo partidas de xadrez ou gamão, de nada adiantarão os cuidados.
EXERCÍCIOS PARA MELHORAR A CONCENTRAÇÃO E A MEMÓRIA
1- Sair do “piloto automático” e fazer coisas diferentes a cada dia, que saiam um pouco da rotina, já ajudam a trabalhar o que os médicos chamam de atenção ativa. Vale fazer as compras semanais em um supermercado diferente, mudar o caminho para o trabalho ou tentar um restaurante novo no fim de semana. Novidades em geral fazem bem à memória.
2- Para melhorar a sua memória visual, auditiva e tátil, observe detalhadamente uma moeda de R$ 0, 25 e outra de R$ 1, estudando bem as semelhanças e diferenças de cada uma. Após um minuto, cubra-as com um papel e tente desenhá-las com o maior número possível de detalhes. Depois, avalie seu desempenho, comparando seus desenhos e as moedas. Em seguida, recomece o exercício, colocando as moedas em um saco e tentando descobrir, pelo tato, qual é a de R$ 0,25. Durante o exercício, passe os dedos sobre as moedas e imagine-se olhando para elas.
3- Para associar nomes e fisionomias de pessoas conhecidas faça associações verbais. Se o objetivo é memorizar um nome, como Alcino, por exemplo, ou uma pessoa que tem um bigode marcante, crie uma associação do tipo: “Ele tem um sino na boca”. Quando o encontrar, você certamente lembrará do sino, e a ligação será quase automática. E arrisque. Quanto mais inusitada a associação, melhor para a sua memória.
4- A concentração, importantíssima para o processo de memorização, também pode ser trabalhada com exercícios simples, como a técnica do ponto fixo. Para treinar, fixe um objeto de mais ou menos cinco centímetros de diâmetro à sua frente, na parede. Deixe todos os outros pensamentos de lado enquanto estiver olhando aquele ponto e volte a seu foco de atenção sempre que necessário. Repita o exercício por 3 minutos, todos os dias.
5- A habilidade de resgatar dados também é fundamental para a memória. Para treinar essa capacidade, fale, em voz alta, durante um minuto, o que você consegue comprar com uma nota de R$ 1 e com uma nota de R$ 10. Em seguida, fale, em voz alta, o que poderia comprar com as duas notas juntas por mais um minuto. Procure lembrar-se de tudo o que falou e escreva. Repita com outros elementos, colocando obstáculos sempre maiores à sua mente.
6- Se você sempre se esquece se tomou ou não o seu remédio, acostume-se a conversar consigo mesma, dizendo algo como: “Missão cumprida, já tomei meu remédio hoje”, logo depois de injeri-lo. Essa simples frase ajudará a guardar o ato, já automático, na memória.
7- Essa dica também melhora a concentração: sem escrever, escolha uma palavra e soletre-a de trás para frente. Comece com palavras curtas e que conhece bem e passe gradualmente para palavras mais longas e complicadas. Continue o exercício até que verifique que ele já não é tão desafiador. (Fonte – Revista Viva Saúde)
Estimule o cérebro
Dentre as atividades indicadas para estimular o cérebro estão: ler, jogar cartas, xadrez, damas, palavras cruzadas e também videogames. Conversar e expressar opiniões são ótimos estimulantes para a memória, já que durante a atividade argumentativa, o cérebro é requisitado para opinar e replicar, o que colabora com a memorização.
Especialistas ainda salientam que praticar exercícios físicos regulares e manter uma alimentação, que contemple todos os grupos alimentares, auxilia na saúde cerebral. Evite passar por situações estressantes, tenha paciência e mantenha a mente relaxada, pois o cansaço mental prejudica a agilidade da memorização.