| Carlos Panni
Médico e escritor
As terapias geralmente começam com os pacientes falando ou sendo inquiridos sobre a infância. Faz sentido. Os grandes traumas e conflitos começam, muitas das vezes, com os “espinhos no berço” ou, provavelmente, ainda bem antes.
A gravidez indesejada e até com tentativas físicas e emocionais para ser interrompida pode constituir-se num terrível aguilhão que costuma infernizar, por vezes, a vida toda. O abandono e a rejeição são causadores, possivelmente, das piores e mais profundas dores que alguém pode sentir, bem como os precursores de devastadoras consequências. Se isso se aplica, inclusive na idade adulta, é inimaginável o dano sofrido por quem está querendo ver a luz (da aceitação, do acolhimento e do amor) pela primeira vez. Ainda com o agravante por terem sido praticados por quem mais deveria aceitar, acolher e amar.
Espinhos no berço deixam feridas extensas e intensas que doem cada vez que são tocadas ao longo da vida, independente da idade, da cultura ou do status social e financeiro do ferido. Não importa se o berço foi de ouro (material), se não houver cuidado, acolhimento, proteção e estímulo, haverá “espinhos no berço” afetivo e a vida será de dor…
O desafio será empreender um trabalho prolongado de reestruturação da autoestima e da autoconfiança, deixando, gradativamente o passado no passado para transmutar tanto sofrimento em compreensão, perdão e superação. Só assim poder-se-á conquistar um presente mais equilibrado e um futuro mais feliz!
Se estas considerações são importantes para a reestruturação emocional da maioria de nós, serve também, e talvez principalmente, para os pais, irmãos, parentes, cuidadores e tantos mais que se relacionem com gestantes e recém-nascidos. Evitar-se-á, com tal atitude preventiva, transferir os próprios espinhos para o berço de quem recém chegou ou está preste a chegar…
Bem aventurado quem assim o fizer…
Nossos filhos, netos, bisnetos… merecem, precisam e agradecem!
Assim evolui a humanidade!