| Carlos Panni
Médico e escritor
É bastante conhecida a assertiva de Pablo Neruda: “Somos livres nas escolhas, mas escravos das consequências”. À primeira vista parece correta, contudo merece uma análise mais profunda. Somos livres, de fato, nas escolhas?
Por que escolhemos uma profissão, um cônjuge, um tipo de relacionamento com as demais pessoas…? Por que preferimos investir em festas, viagens, roupas de grife enquanto outros preferem uma poupança segura, uma casa mais confortável, uma escola melhor para os filhos…? Há quem escolha ser calmo, outros coléricos, uns fazem tempestade em copo d’água, enquanto outros escolhem a tolerância como regra de vida… Por que tantas escolhas diferentes perante oportunidades iguais?
Esta análise não tem um sentido crítico, não busca investigar quem está certo ou errado, mas simplesmente perceber que, na verdade, cada um faz suas escolhas com apenas aparente liberdade. Aparente, pois, por trás dos gostos, preferências e valores, há uma infinidade de influências nem sempre percebidas e levadas em consideração. Como se sabe, o inconsciente (que define, de fato, as escolhas!) é a base do iceberg, muito maior e poderoso do que se possa imaginar.
Pois esse inconsciente é composto das múltiplas informações (e deformações) que foram impostas e absorvidas pelas vivências e convivências, principalmente durante a primeira infância e, por isso, em sua maioria não lembradas, mas muito atuantes. Por essa razão, nossas escolhas não são tão livres como possa parecer.
Por essa mesma razão é que precisamos estar atentos ao ato de escolher e, se as suas consequências não forem exatamente o que gostaríamos que fossem, é de bom alvitre questionar as suas motivações mais sutis e as suas origens mais profundas para então, e só então, termos condições de iniciar o processo de mudança.
Este é o desafio: nos libertarmos das amarras das deformações do passado para nos tornarmos verdadeiramente senhores das nossas escolhas presentes. Vínculos doentios, opressores ou deprimentes precisam ser desfeitos para que vingue a saúde física, mental e emocional. Só assim, livres, leves e soltos, poderemos escalar montanhas e vislumbrar um futuro promissor e possível.