Como a tecnologia tem auxiliado no enfrentamento das enchentes no Rio Grande do Sul
Nos últimos meses, o Rio Grande do Sul tem enfrentado uma série de desafios devido às enchentes que afetaram milhares de pessoas e empresas em todo o estado. Nesse cenário, a tecnologia surgiu como uma importante aliada, proporcionando soluções inovadoras para diminuir os impactos e agilizar a resposta às necessidades emergenciais.
Aplicativos com informações sobre os abrigos, para resgates de animais e pessoas, plataforma para cadastramento de voluntários e saber as necessidades de doações, plataforma para ajudar na faxina pós-enchente, além de aplicativo para conseguir emprego pós-inundações. Para cada necessidade que surgia durante e que surgiu após a catástrofe, soluções tecnológicas eram colocadas à disposição da sociedade.
O Parque Tecnológico do Prado – PradoTech, localizado em Gravataí, espaço da Casa das Startups, a primeira incubadora de tecnologia do município, foi um dos grandes ecossistemas de inovação que se mobilizou para o enfrentamento da crise climática do estado. O espaço que abriga dezenas de startups passou a servir de armazenamento para toneladas de doações.
Segundo o gestor do PradoTech, Christian Antunes, além de doações, o parque iniciou uma campanha de arrecadação financeira para a compra de botes salva-vidas que foram doados ao Clube Veleiros do Sul para que, naquele primeiro momento, fossem realizados resgates nas cidades de Guaíba e Eldorado do Sul.
“Colocamos o PradoTech à disposição da comunidade como um ponto de coleta e recebimento de doações, onde faríamos a triagem e daríamos o destino correto. Em paralelo a isto, iniciamos uma campanha de arrecadação financeira para a aquisição de quatro botes salva-vidas com motores que seriam entregues ao Clube Veleiros do Sul, que faria uso deles nos resgates nas cidades de Guaíba e Eldorado, que tinham essa necessidade. A campanha alcançou 245 mil reais e conseguimos fazer a doação”, explicou.
Além disso, o espaço disponibilizou toda a estrutura da Casa das Startups para que empresas do Instituto Caldeira que foram afetadas pelas enchentes pudessem continuar operando. Agora, o PradoTech, juntamente com a Associação dos Parques Tecnológicos do RS, está realizando um levantamento dos impactos das enchentes nas startups e, em breve, lançará uma campanha de locação solidária, oferecendo vagas na Casa das Startups para empresas e eventos que tenham como foco principal a discussão sobre mudanças climáticas. A iniciativa busca fomentar debates sobre o clima e desenvolver estudos que possam contribuir para a mitigação de futuros eventos extremos, tanto no Rio Grande do Sul quanto em outras regiões.
O secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia de Gravataí, Robson Andrei, destacou a importância de existir um ecossistema de inovação fortalecido para lidar de forma mais rápida com as mudanças climáticas e prevenir desastres como o que aconteceu em maio.
“A tecnologia é crucial para nosso município a partir de agora. As soluções inovadoras que as startups oferecem são extremamente importantes; precisamos identificar problemas e promover discussões entre diferentes setores para encontrar soluções. As startups e empresas podem começar a desenvolver soluções eficientes, como o mapeamento mais preciso. Esse tipo de colaboração é vital para o setor público”, afirmou.
Tecnologia a Serviço da Comunidade
Diversos aplicativos foram desenvolvidos para ajudar a população a lidar com os efeitos das enchentes. Startups incubadas no PradoTech foram responsáveis por diversas soluções para o enfrentamento durante e após as inundações.
Entre elas está a Startup GovTools, uma govtech voltada para soluções governamentais com o objetivo de desenvolver Smart Cities (cidades inteligentes), trazer inovação e tecnologia com um olhar atento para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU. Após desenvolver o chatbot Ajuda Chat que conecta a população que precisa de ajuda à Defesa Civil, a startup lançou a plataforma para auxiliar no cadastramento do Auxílio Reconstrução. Dentro da plataforma, a população preenche um formulário com todos os dados solicitados pela Prefeitura para que sejam repassados ao governo federal de forma mais rápida e segura. Em 20 dias, mais de 10 mil cadastros foram realizados pelos moradores atingidos pelas enchentes.
“É uma forma prática na qual a tecnologia consegue auxiliar a gestão pública e trazer processos mais efetivos, consegue ali trazer uma forma muito mais prática da população fazer o preenchimento dos seus dados e esses dados são todos direcionados ao governo federal para fazer o repasse dos valores”, destacou o CEO da GovTools, Willian Marcos.
A startup AlertaCar, que oferece, por meio de consultas veiculares, informações atualizadas para que as negociações de compra ou venda de veículos se tornem mais seguras, criou o Alerta de Risco de Enchente, uma ferramenta que realiza o mapeamento das áreas alagadas de acordo com os endereços vinculados ao CPF ou CNPJ consultado, possibilitando uma análise mais detalhada sobre o estado do veículo e, assim, auxiliar na tomada de decisão.
Outra startup que criou plataformas para auxiliar as vítimas das enchentes e agora contribui para a retomada econômica do Rio Grande do Sul foi a Trindtech, empresa que trabalha com a inclusão de profissionais na área de tecnologia, com o propósito de dar a primeira experiência na área para as pessoas que estão querendo ingressar. A startup desenvolve soluções digitais, sites, softwares, sistemas customizados para as empresas parceiras e fazem isso formando equipes com profissionais novos na área sendo mentorados e orientados por profissionais mais experientes.
Nos primeiros dias de calamidade, a equipe da startup, em trabalhos voluntários nos abrigos, observou que em alguns locais havia um excedente de doações enquanto em outros faltavam materiais, ou que abrigos estavam sendo abertos com vagas e as pessoas afetadas não chegavam. Foi neste contexto que surgiu o Ajuda RS, e em menos de 24 horas, a primeira versão da plataforma já estava sendo testada por alguns espaços. Conectando não só os abrigos com necessidades de doações, mas também voluntários que buscavam locais para atuar. Dentro da iniciativa era possível ter a lista de desabrigados, organização de voluntários e direcionamento de doações.
Agora, passados mais de 40 dias das enchentes, surgiram iniciativas focadas na recuperação econômica e social do estado, uma delas é o Reemprega RS, plataforma também criada pela Trindtech que conecta pessoas que foram impactadas pelas enchentes e ficaram desempregadas a novas oportunidades de trabalho, impulsionando a reconstrução pós-calamidade. Além disso, dentro da plataforma é possível se cadastrar como voluntário, para ajudar a fazer currículos, preparação para entrevistas e ajudar com mentorias para estas pessoas que precisam recomeçar.
De acordo com o CEO da Trindtech, Diraci Jr., a ferramenta surgiu após a colega Juliet Bombassaro visitar a cidade de Mussum e observar a necessidade que as pessoas tinham por emprego, após as empresas serem muito afetadas pelas enchentes que atingiram a região em setembro.
“Como a gente tem uma plataforma na Trindtech, que também tem essa preocupação do emprego, foi assim na hora, a gente pode gerar uma aplicação que conecta essas empresas a essas pessoas que vão precisar do emprego”, destacou.
A plataforma foi lançada no final de maio e já conta com diversas empresas com vagas cadastradas. Até o momento, 21 empresas já estão no Reemprega, 80 vagas abertas e mais de 120 candidatos em busca de realocação no mercado de trabalho. Além disso, entrevistas estão sendo realizadas, profissionais estão nas etapas do processo seletivo e candidatos já estão sendo contratados.
“As duas plataformas foram trabalhos voluntários e fomos agregando pessoas também nesse voluntariado. E está muito alinhado ao nosso propósito e valor também da Trindtech, que é a inclusão de profissionais na área de tecnologia, em específico, mas de alguma certa forma, também alinha empresas, mentores e profissionais que estão entrando na área. E a gente acabou expandindo um pouco mais, em um trabalho totalmente à parte. Então, assim, é um trabalho em conjunto de muitas pessoas que gera esses resultados, gera essas oportunidades”, concluiu Diraci.