| Carlos Panni
Médico e escritor
A corrida espacial das grandes potências já deve ter consumido cifras superiores a bilhões de dólares. Grandes feitos… Heróis do espaço… Conquistas extraordinárias em busca de desvendar e, futuramente, conquistar um universo, até então, sem fim…
Tudo muito bem, a não ser pelo fato de que, com cifras muito inferiores, poderíamos desvendar, conquistar (ou reconquistar) a terra.
É, esta terra, este chão onde tem o ar que respiramos, a água que bebemos, o alimento que comemos…
No entanto, com astronômicos investimentos, buscam, freneticamente, contatos de primeiro, segundo ou terceiro graus com seres extraterrestres.
Mas é nesta terra que vivem os terráqueos, nós, os humanos, que tanto precisamos de contato interpessoal, marido e mulher, pais e filhos, irmãos, amigos, companheiros…
Parece que há a possibilidade de haverem encontrado resquícios de gelo em Marte! Descoberta alvissareira e festejada, mas ainda não confirmada. Conquistas!? Que maravilha!?
E no planeta Terra, aqui e agora, como andam as “coisas”? Pois aqui, sem os bilhões de dólares, há bilhões de seres terrestres, tidos como humanos, morrendo de sede e de fome por não terem água e alimento. Por haver algumas gotas d’água em Marte celebram-se os feitos e os gastos espetaculares ou estapafúrdios… para as Instituições e ONGs (as honestas, é claro!) e outras entidades beneficentes: migalhas!
Não é ser contra as pesquisas e descobertas espaciais, mas é uma questão de prioridades… A questão é a valorização, a dignidade e a sobrevivência de todas as pesquisas e conquistas: – a vida humana.
Dessalinização da água do mar não é economicamente viável, mas salvaria a vida de milhões de pessoas. Poços artesianos de grande capacidade não resolveriam o problema das secas, mas mitigaria a sede de outros milhões. Com pequena parte das cifras dispendidas na corrida espacial, seriam erradicadas as verminoses e grande parte das doenças transmissíveis que matam milhões de seres humanos de todas as idades e em todo o planeta – terra.
Parece um raciocínio simplista. Não parece – é!
É tão simples como deduzir que, quem não come, tem fome. Tão simples quanto tirarmos os olhos do espaço (só por um tempo!) e olharmos a fome, a sede, a doença, a carência e o sofrimento de gestantes, recém nascidos, idosos e de tantos outros moribundos de qualquer idade…
Mas tais considerações não derivam de uma moção ideológica, nada tem a ver com “Utopia” ou “O Capital” ou qualquer outra cartilha sócio/comunista. É o povo faminto e sedento daqui – terra, e de outro lado, os bilhões de dólares empregados na conquista de outros mundos. Com investimentos de tais proporções, nosso mundo poderia deixar de ser, (com permissão do trocadilho) tão imundo. De um lado, máquinas e equipamentos se aperfeiçoam de forma exponencial, enquanto a qualidade de vida do planeta e de bilhões de – seres humanos – claudica, e sofre, e morre…
Sentimentalismo barato?
Talvez!
Mas fica o instigante questionamento:
Que prioridade é essa?!
Que coerência é essa?!
Raciocínio simplista?
É!