A Revista Mais Matéria conversou com o psicólogo, especializado em neuropsicologia, Auro de Almeida, para esclarecer como funcionam as fases de desenvolvimento da criança. Confira a seguir:
Como se dividem as fases de desenvolvimento da criança?
As fases de desenvolvimento infantil são diferentes conforme os aspectos avaliados. Cito duas situações: Sigmund Freud descreveu fases associadas ao desenvolvimento psicossexual: Fase Oral – que se estende do nascimento até os 18 meses, onde a criança recebe a gratificação através da boca, língua e lábios, nesta fase morder, sugar é comum. A criança precisa de outras pessoas para que suas necessidades básicas sejam supridas. A Fase Anal se estende até os três anos, os interesses centram-se no controle dos esfíncteres envolvendo o controle, evacuação. A Fálica vai até mais ou menos 5, 6 anos e se define pela descoberta dos genitais, se intensificando a masturbação. É nesta fase que o complexo de Édipo, aspecto central na teoria Freudiana, se mostra mais evidente. Seguido desta fase vem a Latência que é um período de relativa tranquilidade, envolvendo os primeiros anos escolares. Esta fase é importante para o início de senso da consciência moral e ética e conceitos sobre certo e errado. Por último está a Fase Genital que é da puberdade até a vida adulta, onde se confirma a maturação dos aspectos até então construídos.
Outro importante teórico que descreve as fases de desenvolvimento infantil é Jean Piaget, sua descrição se dá por estágios. O primeiro estágio, o Sensório Motor, que se dá até os dois anos, se caracteriza pelo desenvolvimento cognitivo através das ações concretas. A criança vai evoluindo e entendendo-se a partir das relações que tem com a mãe e diferenciando-se entre objetos e seu próprio corpo. Dos dois aos seis anos é a fase onde as crianças reproduzem imagens mentais, há maior exercício intuitivo, onde a expressão comunicativa se torna mais intensa, mas no inicio mais egocêntrica, necessitando evoluir para uma percepção do outro, esta fase é chamada de Estágio Pré-operatório. Na sequência, dos 6 aos 12 anos a fase se define como Estágio Operatório Concreto, onde o pensamento da criança aceita o ponto de vista do outro, levando em conta mais de uma perspectiva. A evolução permite realizar atividades que necessitam reversibilidade. Por último, Piaget traz o Estágio das Operações Formais, que vai dos 12 anos em diante, que se caracteriza pela forma adulta de pensar, ou seja, há capacidade plena de raciocinar sobre hipóteses e ideias abstratas.
Em qual fase a criança aprende a maneira de se portar em grupos, em sociedade?
A capacidade e condição de convivência em grupo se constroem desde o primeiro ano, porém é em torno de três anos que a criança começa a entender mais a ideia de ser integrante de um grupo, está mais apta a uma convivência e uma troca com respeito de regras e combinações sociais, mas esta habilidade como um todo ocorre nas fases posteriores até a adolescência.
Uma criança que não é estimulada corretamente terá problemas em seu desenvolvimento?
A falta de estímulo ou uma inadequação no atendimento das necessidades físicas, cognitivas e psíquicas da criança com certeza trará consequências negativas. Cada criança vai responder de maneira diferente a estas faltas, a quantificação destes prejuízos dependerá muito da capacidade de resiliência de cada uma.
Em que momento se dá a construção das estruturas lógicas de uma criança?
Podemos definir que o raciocínio lógico ocorre a partir da habilidade de abstrair, compreender e interpretar. Argumentar com base em critérios e princípios que possuem lógica organizada. Piaget indica que esta fase se constrói lentamente e se completa quando há capacidade de solução de problemas através da abstração e a criança alcança o nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo, não se limitando a representações concretas e imediatas e essa capacidade ocorre no Estágio Operatório Formal.
Em sua opinião, qual a melhor forma das escolinhas trabalharem com as crianças? Limitando as possibilidades ou abrindo espaço para a criatividade?
Penso que as escolas de educação infantil precisam desenvolver uma educação integral respeitando as necessidades da criança, sem antecipar processos e sem entender a criança como um mini-adulto. É necessário unir a educação e o cuidado, tendo o lúdico e o afeto como referências principais. A sociedade tem “forçado” que as famílias pensem que quanto antes é melhor, mas isso é uma ideia falsa, principalmente quando se substitui um carrinho, uma bola, uma casinha de boneca, por tabletes, vídeo games, computadores, ou quando aos 4, 5 anos já cobram das crianças que saibam ler e escrever.