Por Juliane Pires | CRP 07/17523
Psicóloga
A Síndrome de Asperger, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), se enquadra dentro da categoria de Transtornos do Espectro Autista. Sendo que ambos os transtornos apresentam muitas similaridades nos critérios diagnósticos, diferindo somente nos aspectos da linguagem e da cognição, que na Síndrome de Asperger, não apresentam atrasos e sua capacidade de memorização é muito desenvolvida. Embora haja essa competência para mentalizar, há uma dificuldade para aplicar e fazer uso desse conhecimento adquirido.
Os indivíduos com Síndrome de Asperger apresentam prejuízo significativo na interação social. O que pode os tornar mais socialmente isolados, mas não comumente tímidos na presença dos demais. Há tendência à uma interação, mas a sua abordagem costuma ser excêntrica, com marcante inabilidade em interpretar os sentimentos e as expressões faciais dos demais, por ter um pensamento muito concreto, o que dificulta compreender as figuras de linguagem e outras formas não verbais de comunicação (como gestos, posturas, dicas) presentes no momento de interação. O que também entrava essa interação social é a dificuldade de compreender e fazer uso das regras e normas sociais que são percebidas como muito complexas.
Apresentam também padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. Devido a isso, pequenas mudanças em seu contexto, podem trazer grandes alterações de conduta. Tendem a ficar muito confusos fora do seu contexto familiar, pois necessitam de uma certa constância e rotina para se organizarem fisicamente e psicologicamente.
Com relação a aquisição da linguagem, embora seja adquirida na época esperada, ela apresenta aspectos diferenciados quanto a formalidade, a velocidade, a entonação, a inflexão e, principalmente, no que se refere ao conteúdo. Muitas vezes o conteúdo dessa linguagem mostra-se pouco coerente, repetitivo ou sem lógica. No que se refere à comunicação não verbal, indivíduos com Asperger tendem a ter pouca expressão facial, mímica pouco presente e dificuldades acentuadas de externalizar sentimentos e situações emocionais do cotidiano. O que acaba inviabilizando manter uma conversação, embora possa haver uma vontade de interagir.
Grande parte dessa sintomatologia pode ser explicada pela falta de empatia, que é a incapacidade de desenvolver padrões de representação simbólicas, ou seja, apresentam uma dificuldade de ler a mente do outro, de sentir o que o outro está sentindo e inferir com base no que o outro está sentindo ou pensando. A sua capacidade de simbolizar encontra-se prejudicada.
Sendo assim, se uma criança apresentar alguns desses comportamentos descritos acima é imprescindível analisar e considerar alguns fatores. Principalmente se esses comportamentos forem muito intensos, frequentes e estiverem acarretando um prejuízo clinicamente significativo na vida social, ocupacional ou emocional do indivíduo. Nesses casos, é indicado que os pais ou responsáveis procurem uma orientação profissional para maiores esclarecimentos, para que uma avaliação seja realizada, para que diagnósticos diferenciais sejam estudados e que os encaminhamentos mais assertivos sejam feitos.