Texto por Rita Trindade  | Foto Divulgação

O Grupo Porta Aberta, que promove debates e eventos culturais em Cachoeirinha, realizou, em parceria com o Espaço de Empoderamento, de Porto Alegre, e com o apoio do Ponto de Leitura Sol e Lua, no 12 de junho, na sede da Associação dos Moradores do Bairro Carlos Wilkens, a palestra “A (re)invenção da Mulher: teoria, história e prática do Feminismo” com a professora Tatiana Vargas Maia.

Tatiana é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bacharel em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é doutoranda do Departamento de Ciência Política da Southern Illinois University at Carbondale. Hoje em dia Tatiana é professora e coordenadora do curso de Relações Internacionais do Unilasalle.

Professora Tatiana Vargas Maia

Conversamos com a professora Tatiana Vargas Maia sobre feminismo, empreendedorismo feminino, mulheres no mercado de trabalho e igualdade de gêneros. Confira a seguir.

1. Como você percebe a reinvenção da mulher no atual contexto que vivemos?

Eu vejo o momento atual como um momento onde mais mulheres estão em uma situação de maior protagonismo cultural e social. Isso quer dizer que temos uma situação nova, onde conseguimos reinvidicar prioridades a partir do nosso próprio ponto de vista. Isso é uma reinvenção do papel da mulher e do que significa ser mulher. É claro que isso não quer dizer que as mulheres estão em situação de igualdade política, na medida que ainda há muito para ser feito em termos de igual pagamento, igual oportunidade e respeito. Mas mesmo os termos nos quais se luta por esses direitos é algo que faz parte dessa “reinvenção”.

2. Como você definiria o conceito de feminismo nos dias atuais?

Eu gosto muito de uma definição alinhada com a da autora nigeriana Chimamanda Adichie, que diz que feminismo é a igualdade política, social, econômica e cultural entre os gêneros.

3. Em sua opinião, como as mulheres percebem o feminismo?

Não sei se todas as mulheres percebem o feminismo da mesma forma. Existem diferentes abordagens dentro do feminismo que enfatizam algumas prioridades diferentes. Por isso que eu gosto da definição que usei acima. A percepção da importância de ter igual tratamento, igual consideração política e igual respeito entre os gêneros parece algo que boa parte das mulheres, até por uma questão de empatia, são capazes de concordar.

4. Como você analisa o papel da mulher no mundo corporativo atualmente?

Existem duas questões separadas aqui. De um lado há um certo lugar-comum que pressupõe que mulheres no mundo corporativo devem ser menos duras, ou menos exigentes do que homens – o que eu francamente acho uma grande bobagem. Por outro lado, talvez justamente por uma percepção generalizada desse lugar-comum como fato, existem poucas mulheres em posição de liderança corporativa. Eu creio que esse é um desafio importante para os próximos anos: procurar aumentar a participação e protagonismo de mulheres no ambiente corporativo.

5. Quais as perspectivas para a mulher no mundo empresarial?

Não há nada que uma mulher não possa fazer no mundo empresarial. Existem, é claro, dificuldades políticas e culturais vinculadas a percepção histórica do papel da mulher no ambiente de trabalho, e essas dificuldades colocam mulheres no mundo empresarial em uma posição complicada, na medida que elas se tornam, necessariamente, figuras que vão abrir o caminho para outras gerações.

6. Como os homens percebem o movimento feminista? O olhar deles mudou?

Homens diferentes percebem o movimento feminista de forma diferente. Eu creio que, de forma geral, é possível perceber que o movimento feminista não pode mais ser ignorado enquanto um movimento que tem demandas políticas específicas. Só a publicização dessas demandas já implicou uma mudança de olhar, seja no sentido de acentuar uma reação negativa, quase caricata, do movimento, ou de reconhecer a procedência dessas demandas por igualdade política que surgem, agora publicamente.

7. Para onde irá o movimento feminista?

Creio que o desafio dos próximos anos é aumentar o escopo de inclusividade do movimento, sem descaracterizar as demandas mais urgentes. Me preocupa que o movimento, ao focar apenas no que é mais urgente, esqueça de demandas de grupos identificados com minorias étnicas ou sexuais dentro do movimento feminista, ou que, ao focar nas demandas de grupo, coloque demandas urgentes de lado . Esse é um equilíbrio difícil, que acho que vai definir as próximas décadas dentro do movimento.

8. Embora o número de mulheres empreendedoras venha aumentando, ainda é muito baixo quando comparado com os homens. Por que você acredita que isso ocorre? As mulheres têm mais medo de arriscar?

Por um lado, creio que é uma questão cultural. E essa questão cultural, tanto empresarial, quanto, mais ampla, na sociedade como um todo, coloca mulheres dispostas a questionar esse padrão em uma posição profundamente difícil. Não creio que é apenas uma aversão ao risco. Penso que trata-se de uma questão do tipo de comprometimento emocional e pessoal que ter um protagonismo no ambiente corporativo vai exigir dessas mulheres. Aqui, o desafio é mudar a forma como educamos meninos e meninas sobre futuras profissões e comportamentos profissionais.

9. Você acredita que um dia existirá real igualdade entre homens e mulheres? Por exemplo, igualdade de reconhecimento profissional?

Igualdade política, econômica e social entre homens e mulheres já é algo próximo da realidade em vários países. Isso é uma questão de comprometimento de longo prazo e políticas públicas de educação e formação do ambiente de trabalho. A Escandinávia tem um índice de igualdade entre homens e mulheres, familiar e profissional, próximo do que poderíamos considerar utópico. Países como Estados Unidos, Canadá, França e Inglaterra estipularam diversos mecanismos para garantir igualdade profissional e de salário. Essa tendência é algo inevitável em países decentes e desenvolvidos. O Brasil já tem tomados alguns passos nessa direção, e seguir o exemplo e políticas que funcionaram em outros países certamente não seria impossível – se houvesse a vontade política de fazê-lo.