| Eveline Juswiak
Psicóloga – CRP 07/20725
Quero contar uma história de uma mulher chamada Ana.
A Ana é uma mulher forte, determinada, tem muitos sonhos, mas também tem uma grande dificuldade em lidar com sua irritabilidade. Existem diversos momentos em que a raiva aparece: quando é contrariada, quando algo sai do seu controle ou não acontece do jeito que deseja e, principalmente, quando as pessoas não agem como gostaria.
Ana relata que nesses momentos algo acontece dentro dela. Sente como se fosse explodir, seu corpo fica totalmente contraído, parece que seu sangue ferve, e ela “não consegue” se controlar. A raiva que Ana sente a conecta com pensamentos generalistas como: “nada dá certo comigo” e “as pessoas querem me ver irritada, fazem de propósito para me provocar”.
Essas sensações e pensamentos levam Ana a reagir de maneira explosiva, brigando com as pessoas que aparentemente a provocam, atirando objetos ao chão ou dando murros contra a parede quando algo não sai do jeito de gostaria. Ela não se deu conta do quanto essas ações alimentam mais ainda sua ira, e de como as pessoas vem se afastando dela, além do trabalho extra que gera o ato de quebrar as coisas.
Tanto a história como a personagem não são reais, mas muitas pessoas se veem presas no ciclo da raiva de forma muito semelhante a esse pequeno conto. Nem todos agem de maneira explosiva, muitas pessoas acabam se isolando e se fechando para tentar “conter” esse sentimento tão desagradável.
Mas além de pensarmos sobre as reações, podemos avaliar de que forma estamos interpretando a situação em si. Quais sentimentos estão por trás da raiva? Pode ter frustração, injustiça, sentimento de desvalorização. E será que essa interpretação realmente está de acordo com o que está acontecendo? Ou é apenas o que está se pensando sobre a situação?
A raiva é recriminada por muitas pessoas, julgada como um sentimento ruim e algo que não devemos sentir. Mas assim como qualquer outro sentimento, ele também tem sua utilidade e valor, além de ser algo que não se controla. A raiva é um sentimento bem normal quando sofremos uma injustiça, ou quando nos frustramos, ou até mesmo quando nos sentimos invalidados ou desvalorizados. É um sentimento que nos leva a agir, realizar mudanças, impor limites necessários.
Mas então todo comportamento motivado pela raiva é adequado?
Não! Nem todo comportamento é adequado ou útil para alcançar aquilo que é importante, como o estabelecimento de um limite. A raiva pode nos levar a ações impulsivas e imediatas. Uma das ferramentas úteis nesses momentos é respirar fundo e se conectar com o que vou chamar de mente sábia (termo usado pela Terapia Dialética Comportamental).
A mente sábia nada mais é que a sabedoria que cada um pode encontrar dentro de si mesmo. É o equilíbrio entre o racional e o emocional, entre impulsos e valores. Esse é um exercício que você pode usar em momentos em que não está com raiva, para que seja mais facilmente acessado nos momentos difíceis.
Lembre de uma situação onde você sentiu muita raiva, lembre qual foi teu ímpeto ou impulso. Agora imagine o que teu lado racional diria sobre o como você deveria agir. Em seguida, imagine o meio entre os dois: como seria? A mente sábia aceita a emoção como ela vem, mas também consegue escolher como deseja agir para ser mais coerente com seus valores. A mente sábia nos ajuda a ver quando estamos interpretando a realidade de uma maneira distorcida.
A busca pelo equilíbrio tem a ver com esse caminho do meio. Com o balançar os dois lados, e não escolher sempre o lado da emoção ou da razão. Ambos fazem parte de ti e são importantes para a tua identidade!