Desafios e soluções na Gestão de Resíduos após as enchentes do Rio Grande do Sul
As recentes enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul não apenas deixaram marcas visíveis nas paisagens urbanas e rurais, mas também desencadearam um enorme desafio no tratamento dos resíduos gerados pela catástrofe.
Uma pesquisa realizada pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) revelou que o lixo gerado pelas enchentes já soma 47 milhões de toneladas de resíduos. Esse volume supera a quantidade de lixo gerada na guerra na Faixa de Gaza.
A Ambientuus, referência na coleta, transporte e tratamento de resíduos de saúde e a única empresa do Rio Grande do Sul licenciada pela Fepam para o tratamento de resíduos através da incineração, atuou como voluntária na gestão de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) em seis hospitais de campanha instalados pelo exército.
Segundo o engenheiro da Ambientuus, Humberto Falcão, os principais desafios neste momento de retomada serão a quantidade enorme de resíduos, os diversos tipos de detritos (orgânicos, perigosos, eletrônicos, etc.) e a urgência em removê-los para evitar danos à saúde pública e ao meio ambiente.
“A falta de infraestrutura adequada para o gerenciamento de grandes volumes de resíduos também se mostra um obstáculo significativo”, destacou.
O engenheiro explica que, para enfrentar o cenário de calamidade e evitar que lixos hospitalares se somassem aos milhões de detritos já existentes, a Ambientuus desenvolveu um plano de ação baseado em diretrizes de gestão de resíduos em situações de desastre.
“Primeiro, realizamos uma avaliação rápida para categorizar e quantificar os resíduos hospitalares. Em seguida, implementamos um sistema de coleta, transporte e disposição, assegurando que os resíduos perigosos fossem segregados e tratados de acordo com as regulamentações de saúde pública e meio ambiente. A coordenação com autoridades de transporte para liberação das vias de acesso foi fundamental para o sucesso das nossas operações de transporte e coleta”, afirmou.
De acordo com o Departamento Municipal de Lixo Urbano (DMLU), nas últimas duas semanas, somente em Porto Alegre, as equipes de limpeza recolheram mais de 900 toneladas de resíduos das ruas. Esse número acende o alerta para outro desafio que precisará ser enfrentado em breve: os riscos associados ao manejo inadequado destes resíduos após as enchentes.
Para o engenheiro da Ambientuus, a contaminação de água e solo, a proliferação de doenças infecciosas e a exposição a substâncias tóxicas são apenas alguns dos perigos enfrentados. Portanto, uma gestão eficiente dos resíduos é fundamental para proteger a população.
“O manejo inadequado pode também resultar em riscos de acidentes ocupacionais, incêndios e impactos negativos à saúde pública, como infecções e problemas respiratórios”, acrescentou.
Para o futuro, será necessária a criação de infraestruturas resilientes e preparadas para desastres. Isso inclui sistemas flexíveis e escaláveis para a gestão de resíduos comuns e hospitalares, investimento em tecnologias de tratamento e reciclagem, além de programas educacionais para preparar as comunidades para futuras crises ambientais.
“Planejamento prévio e colaboração interinstitucional são fundamentais para mitigar os impactos de futuros desastres e garantir a segurança ambiental e de saúde pública”, concluiu Falcão.