Adão de Castro Júnior
Gestor em Transporte Terrestre
A utilização das vias públicas não é um espaço democrático. A maior parte dos congestionamentos é provocada pelos automóveis, que utilizam muito mais espaço que o transporte público. Isso tem implicações importantes na hora de analisar as soluções para os congestionamentos.
Considerando que um automóvel transporta em média 1,5 pessoas e que um ônibus transporta em média 30 pessoas, pode-se calcular quando espaço cada pessoa está usando. No caso de uma quadra com extensão de 100 metros (uma quadra comum de zona urbana) cabem 48 veículos, que carregam em média um total de 72 pessoas, esta quantidade poderia ser transportada por um único ônibus (com pessoas em pé) ou dois ônibus com as pessoas sentadas. A área de 7m² dos automóveis (parado), dividida pela ocupação de 1,5 pessoas, gera um taxa de 4,7 m² por pessoa. Já a taxa correspondente para as pessoas dentro do ônibus é de 1 m² (área do ônibus de 30 m²). isso significa que alguém dentro de um automóvel usa em média 4,7 vezes o espaço de alguém dentro do ônibus e o dobro desse valor no horário de pico.
Outra questão a ser levantada é em relação aos deslocamentos que as pessoas de diferentes classes sócias realizam durante o dia. Quando essas taxas médias de ocupação são transportadas para os deslocamentos que as pessoas fazem durante o dia todo, entre os grupos e classes sociais ficam muito claras. As pessoas dos domicílios de renda mais alta usam oito vezes mais espaço viário do que as pessoas dos domicílios de renda mais baixa. Isso mostra que a via não é um bem de consumo coletivo, democrático e igualitário entre as pessoas, pois é utilizada diferentemente por elas, conforme suas condições sociais e econômicas. Assim, a idéia de que os investimentos no sistema viário são democráticos e apropriados e utilizados por todos é um mito, manipulado habilmente por alguns setores políticos e econômicos. Na maior parte das vezes, os investimentos privilegiam setores específicos da sociedade, que tem acesso as transporte individual.
Para encerrar as políticas públicas precisam investir pesado no transporte coletivo, diversificando nossa matriz de transporte, que hoje está baseada no transporte rodoviário, incentivando as pessoas a deixarem seus veículos em casa e utilizarem os transportes alternativos. (texto adaptado. Livro: “O que é trânsito” – autor: Eduardo Vasconcellos)