| Rosane Castro
Escritora e Narradora de Histórias
Enquanto admirava as luzes colocadas na árvore de Natal estilizada, lembro-me da índia que, sentada na calçada da lateral do Banco do Brasil, em Cachoeirinha, produzia, com cuidado, o seu artesanato. Estava acompanhada da sua filha e de dois netos. Além de árvores de taquara e cipó, ela também fazia estrelas, renas, cestas e pequenas bolas decorativas.
Normalmente, caminho pelas ruas da cidade, sempre muito objetiva e sem desejos de consumo, indo às compras somente quando necessário. Mas, ao ver aquela mulher sentada no chão, produzindo enfeites natalinos, não pude deixar de relacionar todas as informações contidas naquela cena: uma índia, o Banco do Brasil e os adereços de Natal. Senti-me magnetizada pela situação e parei para adquirir uma daquelas árvores.
Deixo, ao leitor, caso seja de seu interesse, correlacionar essas informações. Quero, com esse relato, descrever o meu sentimento a respeito do Natal e do Ano Novo. Duas datas que me fazem refletir muito sobre a nossa condição humana e a esperança.
A cada novo ciclo, pergunto-me: Já passou um ano? Às vezes, tenho a impressão que o tempo está preso a um pêndulo descontrolado. Estamos, a cada dia que passa, mais ocupados com nossos afazeres pessoais e profissionais, que não percebemos a velocidade do tempo. Deixamos para desejar amor, paz, saúde, prosperidade, nessas épocas, assim como, os abraços apertados ficam condicionados a datas comemorativas ou visitas breves e pontuais.
Somos seres que necessitamos de atenção, carinho e respeito. Nossa humanidade está, justamente, na nossa maneira de ver e sentir o outro e nas nossas emoções. Deixar para dizer “eu te amo” no dia seguinte, sem dúvida, é perder a oportunidade de valorizar o momento, portanto, o tempo.
Diga às pessoas como elas são importantes na sua vida, como você as ama. Fale sobre sua esperança em um futuro melhor, com paz e dignidade a todos. Tenha menos pressa e faça mais pausas para sentir a vida pulsando à sua volta. Não corra atrás do que está à sua frente. Um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino, pagava um salário extra para que os seus carregadores índios andassem mais rápido.
Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos se sentaram no chão e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os índios não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta:
– Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem.
Conto de sabedoria indígena
Publicado no livro, Maktub, de Paulo Coelho.