Texto | Denise de Oliveira Milbradt – Fotos | Divulgação
Talvez, aos olhos dos homens, Deus esteja distante demais da civilização africana. Não é para menos, vem do continente os maiores índices de desnutrição, de portadores do vírus HIV e de tantas outras doenças que contribuem para o caos da sobrevivência humana. A África ainda é berço sólido para a miséria e de solos quase improdutivos.
Uma gota d’água, no entanto, tem caído em terras áridas. Tudo começou no ano de 2007, quando um ex-refugiado moçambicano (ainda jovem) foi acolhido por uma missão Luterana no Kênia, e depois enviado para o Canadá. Quando adulto fez teologia e, em vez de ser pastor no Canadá, Joseph Quembo Alfazema pediu para voltar a Moçambique. Lá – junto com sua esposa – começou a trabalhar na área social e também na pregação do evangelho. Em 2009 fez contato com o pastor brasileiro Carlos Walter Winterle, sugerindo a realização de um trabalho missionário pela Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB. Desde então, a congregação tem se empenhado a formar novos pastores, dando educação teológica por extensão e em erguer novas igrejas em Moçambique. Atualmente são 7 pastores formados e ordenados, 70 candidatos ao ministério e mais de 90 congregações e, cerca de 8 mil fieis.
Uma destas lideranças é o pastor e capelão escolar no Colégio Ulbra São Mateus, em Cachoeirinha, André Buchweitz Plamer. Desde 2013 ele tem viajado para dar aulas e apoiar o trabalho de formação de pastores locais. A última delas ocorreu em julho deste ano com o apoio da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e da Aelbra para atuar na Igreja Cristã da Concórdia em Moçambique (ICCM), oficialmente registrada em abril de 2018.
O trabalho começou na província de Sofala e hoje está em quatro das 11 Províncias de Moçambique, cuja capital é a cidade da Beira, local com muitas carências e falta de investimentos. O que não chega a ser nenhuma novidade, tendo em vista a escassez de indústrias para proporcionar trabalho para a população. Além disso, a economia de modo geral tem por base a subsistência, isso se justifica pela falta de tecnologias disponíveis. “Neste local tão especial, tão cheio de valores e cultura contagiante, Deus escolheu no século XXI mostrar sua bondosa misericórdia e salvar este povo. Está fazendo isso por meio da pregação da palavra dos pastores, missionários e membros da ICCM, que são incansáveis em falar de Jesus nas diversas aldeias”, detalha Plamer.
O local tem como marcante característica os muitos contrastes sociais onde mais de 55% da população vive abaixo da linha de pobreza, com renda de meio dólar americano por dia (dados da Unicef), com altíssimo índice de contaminação por HIV, e de expectativa de vida na faixa dos 55 anos (Banco Mundial). “Em meio a tudo isso está uma cultura riquíssima de expressões culturais e que, ainda é transmitida pela tradição oral, em sua grande maioria”, conta o pastor. Entre elas está um grupo pigmeu que mora nas florestas e montanhas de Gorongosa, na região central da Província de Sofala. Pouco se sabe sobre eles e raras são as pessoas que tem contato com estes nativos. Eles são muito respeitados pela população, pois dominam a arte de extração de venenos de plantas e animais, fazendo deles um grupo étnico único e em alguns casos temidos pela capacidade de domínio de elementos da natureza.
Curiosidades – Moçambique não é apenas rico culturalmente, mas também linguisticamente. Conforme pesquisas etnólogas, no país são catalogadas 43 línguas faladas, sendo que 41 são de origem bantu (matriz linguística africana), e são consideradas línguas nacionais. As outras duas são o Português, língua oficial pela colonização e a língua de sinais. Deste grupo de linguístico, apenas 10,7%, considera a Língua Portuguesa como sendo a língua materna, o restante da população recorrem às línguas das suas origens.

Pastor André Buchweitz Plamer
Relatos de vida
Em 2017 e 2018, o pastor André Plamer viajou por várias localidades, e por três províncias, totalizando mais de 4 mil km. Ele teve a chance de pregar, tirar dúvidas doutrinárias, fundar várias igrejas, visitar muitos pontos de pregação. Em muitas delas precisou percorrer longos trajetos de carro, precisando adiar a volta pelas dificuldades impostas pelas precárias estradas. Mas a receptividade do povo local sempre o fez retornar.
O último mês de julho foi intenso, histórias que ficaram marcadas. Muitas das Igrejas que passou, ainda que o sol fosse escaldante e as temperaturas acima da média, em relação ao Brasil, muitas delas resumia-se à sombra de algumas árvores, que resistiram ainda em julho a ter folhas verdes num terra árida e assolada pela seca. “Nos cultos, sempre fomos acompanhados de muitas danças, pela batida do batuque (antigo instrumento usado anteriormente para cultos nativos, agora com um repique diferente identifica o culto cristão). Também havia as apresentações dos jovens com cantos e encenações que contam, por meio da letra e da dança, a história da Salvação, batizados e Santa Ceia. Tudo acontece o mais próximo e estilo cultural possível, visando não alterar a ordem cultural local”, experiencia o pastor de Cachoeirinha, morador de Canoas.