Texto por Rita Trindade | Foto divulgação
As modelos brasileiras são ícones de beleza e sucesso no mundo inteiro. Na passarela, deslizando sobre pernas esguias, elas seguem todas o mesmo padrão: altíssimas, magérrimas, lindas e vestindo o manequim 38. Essas modelos ditam um alto padrão de beleza e são inspiração para muitas mulheres, afinal sabemos que o sonho de toda a mulher é vestir o manequim 38. Será? Mas e quem não se encaixa nesse padrão de beleza, como faz para se ajustar aos moldes?
Embora a moda venda a imagem da magreza absoluta como a apropriada, a maioria das mulheres brasileiras não se encaixa neste modelo. Muitas vestem roupas com números maiores e outras bem maiores. Esse novo segmento da moda para as mais gordinhas é conhecido como plus size – O termo surgiu nos Estados Unidos para classificar tamanhos de roupas maiores que o convencional, isto é, acima do manequim 44.
A população obesa brasileira cresceu muito nos últimos anos, segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2013, cerca de 51% da população está acima do peso e 17% é obesa, essa pesquisa aponta ainda que 48% das mulheres brasileiras têm sobrepeso. Conforme uma análise realizada pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI) esse aumento de peso se deve há vários fatores, como por exemplo: A melhora dos salários, a distribuição de renda com maior concentração da população nos grandes centros urbanos, a mudança dos hábitos alimentares. Com a rotina intensa que a sociedade vive, cada vez mais, as pessoas se alimentam fora de casa. O estudo apontou também como razão do desenvolvimento da obesidade, o crescimento dos fast-foods e crianças sozinhas em casa se alimentando sem a adequada orientação dos pais.
Percebendo, então, o aumento da obesidade no país e depois das cobranças e reclamações das “mulheres grandes”, o mercado abriu os olhos e identificou esta imensa necessidade. A moda aprendeu a ser plus size. As peças feias e sem cortes, deram lugar a modelagens e materiais modernos, que harmonizam um caimento perfeito e valorizam as curvas, além de proporcionar conforto para as mulheres plus. As grifes especializadas em tamanhos maiores passaram a desenvolver coleções dentro das tendências de cada estação. “O segmento plus size está ganhando destaque crescente na mídia e conquistando um público cada vez mais informado e interessado em consumir moda”, comemora a jornalista e modelo plus Renata Poskus Vaz, idealizadora do Fashion Weekend Plus Size (FWPS).
Pois é, o estilo plus size está tão em alta que em janeiro de 2010 entrou para o Calendário da Moda Brasileira, com a realização da primeira edição do Fashion Weekend Plus Size. Para Renata, a moda grande demorou a ter espaço nas passarelas, mas aos poucos ela começa a ganhar o seu lugar. “Faz tempo que nós lutamos por isso, eu via as modelos magras e lindas e não me sentia representada por elas, também não queria vestir uma calça preta e uma blusa sem corte, sem graça. Não é por que a mulher é gorda que ela tem que se vestir mal, ser infeliz. Visto acima do manequim 44 e sou muito feliz”, desabafa.
Em Porto Alegre já tem algumas lojas especializadas na moda plus size, como a loja Mulher Bonita, uma loja dirigida às mulheres grandes. Segundo a gerente de marketing da loja, Thayná Candido, a proprietária da marca Gisele de Candido, também plus size, reclamava que nunca encontrava uma loja legal onde pudesse achar roupas que gostasse. “Sempre houve a ditadura do saco de batatas para gordinhas, moda sem estilo e sem personalidade. Por isso, em 1997 a Gisele resolveu criar a loja Mulher Bonita”, conta.
Thayná também percebe o desenvolvimento deste novo mercado. “É um campo que está crescendo e ficamos muito felizes com isso, é a democratização da moda, um padrão de beleza que está sendo extinto e dando lugar aos outros manequins. As marcas de tamanhos padrões ainda têm receios com este mercado, temos muito a evoluir, a moda plus precisa entender que as gordinhas não têm um estilo único. Plus size não é um estilo de moda, é apenas uma diferenciação de numeração no manequim”, explica Thayná.
A gerente de marketing da Mulher Bonita, conta que o mercado plus size é tão rentável quanto o mercado padrão. “Hoje em dia a população de obesos no Brasil é de 17%, mas nós temos um diferencial do mercado convencional. Quando uma gordinha encontra uma loja que gosta e se sente à vontade com roupas que lhe agradam, ela se torna muito mais fiel do que uma cliente P/M que tem mais opções de compra em qualquer loja”, declara.
Como esse o mercado está cada vez ganhando mais espaço, hoje em dia existem muitos blogs de moda destinados exclusivamente a este público. Revistas também têm seções específicas, redes sociais onde as mulheres trocam dicas de looks e conselhos. Entre as it girls plus mais famosas estão Juliana Romano, blogueira e colunista da revista Gloss, Renata Poskus Vaz, jornalista e blogueira e Carla Manso, jornalista e blogueira do IG. As revistas internacionais também não ficam de fora desse movimento, a Vogue Italiana constantemente coloca modelos plus em suas capas, como também a Elle francesa, e as americanas V Magazine e Glamour.