Texto por Rita Trindade
O Ministério da Saúde divulgou no Dia Mundial da Diabetes, comemorado em 14 de novembro, dados inéditos sobre a doença no Brasil. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2012) apontou um aumento de 40% entre 2006, primeiro ano do levantamento, e ano passado. O percentual de pessoas que se declararam diabéticas passou de 5,3% para 7,4% no período. No país, segundo estudos regionais de prevalência de diabetes tipo 2 e atualizando os dados para o Censo IBGE 2010, a Sociedade Brasileira de Diabetes considera que o número estimado de diabéticos é de 12.054.824.
A diabetes está relacionada ao excesso de peso, à falta de exercícios físicos, à má alimentação e o envelhecimento da população. O Vigitel aponta que 75% do grupo de brasileiros convivendo com a diabetes estão acima do peso. Em 2012, pela primeira vez na história, o número de pessoas com sobrepeso superou a metade da população, chegando a 51%.
A diabetes é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos, causando um aumento da glicose (açúcar) no sangue. A diabetes acontece porque o pâncreas não é capaz de produzir o hormônio insulina em quantidade suficiente para suprir as necessidades do organismo, ou porque este hormônio não é capaz de agir de maneira adequada (resistência à insulina). A insulina promove a redução da glicemia ao permitir que o açúcar que está presente no sangue possa penetrar dentro das células, para ser utilizado como fonte de energia. Portanto, se houver falta desse hormônio, ou mesmo se ele não agir corretamente, haverá aumento de glicose no sangue resultando na diabetes.
Superação para escalar o Everest
Rodrigo Ferreira (32) é músico profissional licenciado e professor da rede municipal de Porto Alegre. Quando tinha sete anos de idade descobriu que tinha diabetes. Ele conta que a doença trouxe muitas mudanças para sua vida, mas trouxe também a oportunidade de simbolizar essas questões de maneira positiva e de enxergar aprendizados nessas vivências. “Através da diabetes fui obrigado a buscar um autoconhecimento, entender os sintomas, compreender as necessidades do meu corpo, me organizar para suprir essas questões e crescer a partir disso tudo, falo isso em relação às condições impostas pelo próprio tratamento. Ser diabético em 1988 era muito mais difícil do que hoje em dia”, explica.
O músico leva uma vida normal. Trabalha 40 horas por semana na prefeitura de Porto Alegre como professor de educação musical, ensaia com sua banda, normalmente aos finais de semana, estuda bastante em função do trabalho e das práticas como músico, entre outros afazeres. Paralelo a todas as atividades que desempenha ele realiza o tratamento com dedicação. “Faço uso de lispro e NPH todos os dias no mínimo quatro vezes, podendo chegar até seis vezes, dependendo dos resultados dos testes e da contagem de carboidratos.“
Rodrigo declara que cuida da sua saúde e do seu bem estar. “Tento realizar no mínimo três treinos semanais. Faço musculação, corrida e AIKIDO. Controlo a alimentação através do método de contagem de carboidratos. Uso uma unidade de insulina a cada quinze gramas de carboidratos ingeridos”, revela. Sobre o preconceito em relação a doença ele é taxativo. “Todo o preconceito que existe é em função do desconhecimento. As pessoas em geral têm um conhecimento muito raso sobre a diabetes, o tratamento e a rotina de um diabético. É muito comum as pessoas me dizerem: ‘Mas tu é diabético.Tu não pode fazer isso!’ O que é uma bobagem, os diabéticos podem levar uma vida normal”, esclarece.
Rodrigo foi convidado juntamente com mais três integrantes do Instituto da Criança com Diabetes (ICD), sediado em Porto Alegre, para participar do projeto “Diabéticos sem Fronteiras”, liderado pelo alpinista espanhol Josu Feijoo, o primeiro diabético a escalar o ponto mais alto do mundo. Os quatro representantes do ICD participam de um grupo de corrida. Nenhum, porém, havia praticado alpinismo antes. “Foi uma experiência única, e foi uma sequência de ‘primeiras vezes’ para mim. A primeira vez fora do país, primeira vez em uma montanha, primeira vez vendo neve, primero trekking, primeira vez em altitude”, revela Ferreira.
Para se preparar para a expedição, que durou 22 dias, os quatro gaúchos fizeram um treinamento intensivo de dois meses em Porto Alegre. Uma das atividades era subir e descer correndo a Avenida Coronel Lucas de Oliveira, via íngreme da capital gaúcha. “Um tiro de um quilômetro na Lucas de Oliveira equivale a três quilômetros de esforço plano”, estima Rodrigo.
Os jovens gaúchos diabéticos aceitaram o desafio de escalar o Monte Everest e provaram que a doença não os impede de levar uma vida saudável, podendo inclusive praticar esportes radicais. Para Rodrigo, a expedição foi um grande desafio. “Foi uma experiência muito rica em vários sentidos: cultural, físico, turístico, geográfico, mas ao mesmo tempo não é um passeio fácil de realizar. Tecnicamente e fisicamente foi uma expedição difícil para mim, e novamente, através da diabetes, tive a oportunidade de superar vários limites”, finaliza.
Sintomas
• Poliúria – a pessoa urina demais e, como isso a desidrata, sente muita sede (polidpsia);
• Aumento do apetite;
• Alterações visuais;
• Impotência sexual;
• Infecções fúngicas na pele e nas unhas;
• Feridas, especialmente nos membros inferiores, que demoram a cicatrizar;
• Neuropatias diabéticas provocada pelo comprometimento das terminações nervosas;
• Distúrbios cardíacos e renais.
Tratamento
A diabetes não pode ser dissociada de outras doenças glandulares. Além da obesidade, outros distúrbios metabólicos (excesso de cortisona, do hormônio do crescimento ou maior produção de adrenalina pelas supra-renais) podem estar associados a doença.
O tipo I é também chamado de insulinodependente, porque exige o uso de insulina por via injetável para suprir o organismo desse hormônio que deixou de ser produzido pelo pâncreas. A suspensão da medicação pode provocar a cetoacidose diabética, distúrbio metabólico que pode colocar a vida em risco.
O tipo II não depende da aplicação de insulina e pode ser controlado por medicamentos ministrados por via oral. A doença descompensada pode levar ao coma hiperosmolar, uma complicação grave que pode ser fatal. Dieta alimentar equilibrada é fundamental para o controle da diabetes. Atividade física também é de extrema importância para reduzir o nível da glicose nos dois tipos de diabetes.
Os Tipos da Doença:
• Diabetes tipo 1
O pâncreas perde a capacidade de produzir insulina em decorrência de um defeito do sistema imunológico, fazendo com que nossos anticorpos ataquem as células que produzem a esse hormônio. O diabetes tipo 1 ocorre em cerca de 5 a 10% dos pacientes com diabetes.
• Pré-diabetes
Esse termo é usado para indicar que o paciente tem potencial para desenvolver a doença, como se fosse um estado intermediário entre o saudável e o diabetes tipo 2 – pois no caso do tipo 1 não existe pré-diabetes, a pessoa nasce com uma predisposição genética ao problema e a impossibilidade de produzir insulina, podendo desenvolver o diabetes em qualquer idade.
• Diabetes tipo 2
Existe uma combinação de dois fatores – a diminuição da secreção de insulina e um defeito na sua ação, conhecido como resistência à insulina. Geralmente, o diabetes tipo 2 pode ser tratado com medicamentos orais ou injetáveis, contudo, com o passar do tempo, pode ocorrer o agravamento da doença. O diabetes tipo 2 ocorre em cerca de 90% dos pacientes com diabetes.
• Diabetes Gestacional
É o aumento da resistência à ação da insulina na gestação, levando ao aumento nos níveis de glicose no sangue diagnosticado pela primeira vez na gestação, podendo – ou não – persistir após o parto. A causa exata do diabetes gestacional ainda não é conhecida.
• Outros tipos de diabetes
Esses tipos de diabetes são decorrentes de defeitos genéticos associados a outras doenças ou ao uso de medicamentos. Podem ser: Diabetes por defeitos genéticos da função da célula beta; Por defeitos genéticos na ação da insulina; Diabetes por doenças do pâncreas exócrino (pancreatite, neoplasia, hemocromatose, fibrose cística etc.) e Diabetes por defeitos induzidos por drogas ou produtos químicos (diuréticos, corticóides, betabloqueadores, contraceptivos etc.).