Texto por Rita Trindade
O veganismo é uma opção de vida de pessoas que, por razões éticas, não consomem nem utilizam qualquer produto de origem animal em seu cotidiano. Segundo os adeptos, além da prática proporcionar melhoras significativas na saúde e no bem-estar, os vegans são unânimes em afirmar que o benefício imediato é não contribuir para o sofrimento dos animais. Enquanto o vegetarianismo é socialmente compreendido por pessoas que não comem carnes, mas ingerem outros derivados de animais, como ovo e leite (dieta ovo-lacto-vegetariana), sendo adotado por motivos de saúde, questões éticas ou mesmo ambientais e, até mesmo, espirituais, o veganismo tem como foco principal a luta pela libertação e não exploração animal.
Veganos são vistos como vegetarianos mais radicais. Entretanto, o veganismo é um modo de vida e não, simplesmente, uma dieta vegetariana. Adeptos ao estilo eliminam de suas rotinas toda e qualquer forma de exploração animal, não apenas na alimentação, como também no vestuário, no teste e na composição de produtos, no trabalho, no entretenimento e no comércio. Os vegans são contra a caça e a pesca, o uso de animais em rituais religiosos e qualquer outra utilização que se faça deles, mesmo que em tradições culturais. Esse modo de vida se fundamenta ideologicamente no respeito aos direitos animais e pode ser praticado por qualquer pessoa. Ele não tem relação com crenças políticas, nem deve ser associado à determinada cultura. Trata-se de uma prática universal. A alimentação vegana se baseia em cereais, frutas, legumes, vegetais, hortaliças, algas, cogumelos e qualquer produto, industrializado ou não, desde que não contenha nenhum ingrediente de origem animal. Porém, a culinária vegana não é apreciada somente por seguidores do veganismo, diversas pessoas procuram os pratos em busca de novidades e acabam gostando, sem, necessariamente, aderir ao estilo de vida.
Andressa Pazzini (25) é jornalista e se tornou vegetariana há 11 anos, há dois adotou o estilo de vida vegano. “Não queria mais compactuar com o sofrimento dos animais e com 14 anos parei de comer todo o tipo de carnes e derivados, mas continuei consumindo ovos e leite. Com o tempo e com cada vez mais informação, fui descobrindo que a indústria dos ovos e do leite também é muito cruel (a do leite podemos dizer que ainda é mais do que a da carne), e fui me convencendo de que teria que parar de consumir e buscar alternativas. Há quase dois anos eliminei leite e ovos da minha alimentação e me tornei vegana. A maioria das pessoas pensa que é um estilo de vida difícil e de poucas opções, mas é bem pelo contrário. Claro que em alguns lugares não vamos encontrar certas coisas, mas com o tempo a gente vai descobrindo onde ir e as opções só aumentam”, esclarece.
O principal objetivo dos veganos é encontrar a harmonia com os animais e a natureza. Por isso, sempre mantêm o cuidado de não exagerar no consumo de produtos que podem levar à degradação do meio ambiente. Visando isso, muitos adeptos do veganismo já abdicaram dos carros e hoje circulam com bicicletas. O vestuário de quem adere a este estilo de vida é composto por tecidos de origem vegetal ou sintéticos. Não utilizam sapatos, roupas e acessórios de couro, peles, seda, lã, penas e plumas, pois, segundo o veganismo, são todos produtos oriundos da exploração animal. O uso de medicamentos, cosméticos e produtos de higiene e limpeza que tenham sido testados em animais ou que tenham ingredientes de origem animal também é banido. Andressa afirma que felizmente, várias empresas estão atentas a esse público e já oferecem produtos vegans. “O número de opções vem crescendo cada vez mais, apesar de ainda não ser o ideal, mas estamos no caminho”, declara.
Veganos não tomam vacinas, nem soros, porém podem violar este princípio se não houver outras alternativas. A maioria dos adeptos opta pela fitoterapia, homeopatia ou qualquer tratamento alternativo. Para acabar com as experiências em animais, defendem a criação de alternativas para experiências laboratoriais, como testes in vitro, cultura de tecidos e modelos computacionais. Da mesma forma, o veganismo não aceita a utilização de animais para promover o entretenimento, como afirma a Sociedade Vegana: “Animais não estão nos zoológicos e aquários por opção; eles não realizam performances em circos porque assim o querem, nem pulam em rodeios porque consideram isso divertido. É óbvio que esses animais são coagidos a participar disso”. Rodeios, vaquejadas e touradas também são boicotados, pois implicam em escravidão, posse, deslocamento do animal de seu habitat natural, privação de seus costumes e comunidades, adestramento forçoso e sofrimento. Veganos não caçam e nem praticam qualquer “esporte” que envolva animais. Embora adeptos do veganismo possam ter bichos de estimação, existe um código de ética em relação à aquisição dos mesmos.
Animais não devem ser adquiridos por transação comercial, permuta ou escambo, nem devem provir de ninhadas produzidas intencionalmente. Geralmente, os veganos adotam animais abandonados, preferindo os sem raça definida e com menores chances de serem adotados por outros tutores. O veganismo é, acima de tudo, a escolha por uma vida saudável. Entretanto, poucos são aqueles que aderem a ele por uma questão de saúde. A maioria das pessoas que decide adotar o veganismo, o faz após chocar-se com o sofrimento dos animais.
O abate humanitário divide opiniões
Com base em evidências científicas, passou-se a reconhecer que os animais são seres sencientes, ou seja, capazes de sofrer ou expressar satisfação e felicidade. O Programa Nacional do Abate Humanitário, criado em 2009, objetiva que esses animais não passem por sofrimento desnecessário. O bem-estar deve estar presente em todas as etapas de sua vida, garantindo o manejo adequado desde a criação até o momento do abate. O Programa Nacional do Abate Humanitário é uma parceria entre a ONG internacional, WSPA (sigla em inglês para Sociedade Mundial de Proteção Animal), com sede em Londres, e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A ideia do programa é difundir as práticas corretas de manejo e abate, considerando as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da União Europeia. Acima da preocupação com a qualidade da carne, está a intenção ética de prover qualidade de vida aos animais.
Mas esse programa está longe de ser consenso entre os ativistas. Na opinião de alguns defensores dos animais, pouco importa colocar música clássica para os bois ouvirem ou colorir as granjas com tampinhas de garrafa para as galinhas “brincarem” se o destino é um só: a morte. O abate humanitário não é visto com bons olhos por todos os ativistas. Dentro das organizações de defesa animal, existem duas correntes: a do bem-estarismo e a do abolicionismo. A primeira defende melhores condições de criação e abate como é o caso da WSPA, parceira do governo nesse projeto. Já a segunda clama pelo fim da exploração animal. Sônia Fonseca, presidente do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, foi uma das líderes do movimento para que o abate humanitário se tornasse lei em São Paulo. A ativista é categórica. “É claro que não existe forma boa de matar, mas, no momento, o abate humanitário é uma maneira de diminuir um mal que não podemos evitar”, alega.
No grupo do Abolicionismo está a jornalista Andressa. Para ela, qualquer ação que vise a melhorar o bem-estar animal tem interesses comerciais e perpetua a exploração, porque cria na população a falsa impressão de que eles têm uma vida digna. “Não importa como o animal é morto, e sim o fato de que ele é morto. Mesmo se não houvesse sofrimento, eu entendo que todo ser vivo tem direito à vida e à liberdade. Eles não nasceram para nos servir e, portanto, a gente não tem o direito de tirar a vida de nenhum deles, ainda mais com a quantidade de opções que temos para alimentação. Ou seja, nem para a alimentação a morte de um animal serve como desculpa. O abate humanitário serve apenas para passar uma falsa imagem ao público de que o animal viveu bem e foi morto “com carinho”, mas isso não existe! É uma tática da indústria para tirar o peso na consciência das pessoas e fazer com que elas continuem consumindo, mas “aliviadas” por não estarem comprando algo que veio ao custo de muito sofrimento. Enorme engano”, conclui.
Sônia, do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, rejeita essa divisão entre as ONGs. “No fundo, todos somos abolicionistas. Não tenho pretensão de impedir que as pessoas comam carne. Se isso não é possível no momento, por ora, vamos minimizar o sofrimento dos animais”, defende.
Os vegetarianos
Confira abaixo os tipos de vegetarianos:
• Ovo-lacto-vegetariano: comem alimentos de origem vegetal, ovos, leite e derivados.
• Ovo-vegetariano: comem alimentos de origem vegetal e ovos.
• Lacto-vegetariano: comem alimentos de origem vegetal, leite e derivados.
• Vegetariano Estrito: não comem produtos de origem animal. Também não comem caldos de carne, gelatinas, queijos feitos com coalhos de animal, salgadinhos feitos com banha, entre outros.
• Vegano: não comem e não utilizam nenhum produto de origem animal. São contra a exploração animal em todos os sentidos.
Saiba mais sobre o veganismo
Documentários como Meat Your Meat (Conheça a sua carne) e o pioneiro brasileiro A Carne é Fraca, foram criados com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre as péssimas condições de vida dos animais que já nascem como produtos, destinados ao abate. Visto como o melhor documentário já realizado no Brasil sobre o consumo da carne e suas consequências, A Carne é Fraca adquiriu diversos adeptos que, por também desejarem mudar esta realidade, optam por um estilo de vida conhecido como veganismo. O Documentário Não Matarás foi produzido pelo Instituto Nina Rosa e fala sobre experimentação em animais e suas consequências para os próprios animais, para o homem, para a educação e para o mercado. O documentário Terráqueos (Earthlings) foi produzido em 2005 por Shaun Monson, o filme faz um estudo detalhado das lojas de animais, fábricas de filhotes e dos abrigos para animais, assim como das fazendas industriais, do comércio de peles e de couro, das indústrias da diversão e esportes, e finalmente, do uso médico e científico.
Todos os documentários citados acima estão no YouTube. Se interessou pelo assunto e quer assistir? Confira abaixo os links:
Meat Your Meat (Conheça a sua carne) – http://youtu.be/QgM8QhlEtP0
A Carne é Fraca – http://youtu.be/rrFsGTw5bCw
Não Matarás – http://youtu.be/Uxxj9GRbyBE
Terráqueos (Earthlings) – http://youtu.be/vPtrekRyTMA