Texto por Kamyla Jardim
Como é a sua rotina de trabalho durante a semana? Tem tempo para uma dormidinha depois do almoço? A discussão sobre o relaxamento durante as atividades de trabalho tem se tornado constante nas empresas brasileiras, já que pesquisas informam que tirar uma soneca depois do almoço pode ser produtivo e rentável.
Muitas empresas estão se inspirando nos italianos e espanhóis e proporcionando “cantinhos do cochilo” aos seus funcionários. A principal razão para as empresas se esmerarem cada vez mais para atrair e reter os melhores talentos é o crescimento econômico constante dos últimos anos e a escassez de mão de obra qualificada no Brasil. Além do funcionário se sentir beneficiado, o cochilo integrado na rotina de trabalho permite um descanso que dá novo fôlego, resultando em trabalhadores mais produtivos no restante da jornada.
A maioria das pessoas enfrenta uma rotina agitada e acaba dormindo menos do que o necessário durante a noite. Consequentemente, sentem-se cansadas e sonolentas, principalmente após o almoço. Nesse período, o funcionamento do cérebro se torna mais lento porque, durante a digestão, parte do fluxo sanguíneo é desviado para o estômago, causando privação moderada de sangue em outras áreas, incluindo o cérebro e os músculos. É por isso que sentimos muito sono após almoçar e lutar contra a sonolência não vale a pena. Médicos afirmam que a melhor solução é cochilar por um tempo estipulado e depois retornar ao trabalho com mais disposição. Esse intervalo oferece várias vantagens, como a melhoria da memória, a redução do estresse e o aumento da criatividade. A última, por exemplo, só aflora com qualidade quando o cérebro está totalmente descansado. Empresas que necessitam de criatividade deveriam estimular esse intervalo para a reparação da capacidade cerebral.
Assim como tudo na vida, a soneca também tem sua dose certa, caso contrário ela pode prejudicar ao invés de auxiliar. A Dra. Sara Mednick escreveu o livro “Tire uma soneca! Mude sua vida”, que conta como utilizar essa pequena forma de descanso a favor do dia a dia. Uma das dicas descritas no livro é com relação ao tempo de descanso. Segundo a autora, 10 a 20 minutos de soneca proporcionam um retorno ao trabalho com a mente mais afiada, cheia de ideias. Já 60 minutos de soneca ajudam a fixar memórias recém-aprendidas. E se o funcionário conseguir cochilar por 90 minutos sentirá melhora na criatividade e inteligência emocional.
Entretanto, até na hora da soneca, é preciso se planejar. No caso de empresas que disponibilizam um espaço adequado para o descanso, o funcionário pode aproveitar pelo menos 20 minutos para cochilar e verá um bom resultado. A ideia também está sendo pensada em restaurantes. No Brasil, muitos estabelecimentos estão abrindo espaços para garantir um momento de descanso aos clientes após a refeição. Um verdadeiro alívio para a correria diária no caso de funcionários que não possuem esse local de cochilo no trabalho.
Dormir mais no fim de semana não ajuda a repor sono perdido de outros dias
Dormir mais no fim de semana para tentar suprir a privação de sono sofrida nos dias úteis não é uma estratégia eficaz para reparar os danos causados ao corpo pelas poucas horas de descanso. Em artigo divulgado, na publicação científica “American Journal of Physiology-Endocrinology and Metabolism”, pesquisadores argumentaram que a tentativa de compensação não é capaz de evitar que o indivíduo apresente, por exemplo, dificuldades de concentração.
Os cientistas da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, submeteram 30 adultos saudáveis a três padrões de sono, durante 13 dias. Nas primeiras quatro noites os voluntários dormiram por oito horas; nos outros seis dias descansaram por seis horas; nos últimos três dias, dormiram por dez horas.
No estudo, os voluntários passaram por exames para analisar a atividade cerebral durante o sono. Eles também tiveram seus níveis de hormônios no sangue medidos. Foram aplicados, ainda, testes para medir a capacidade de concentração e de realizar tarefas.
Com os testes, os pesquisadores descobriram que as 10 horas de sono conseguiram diminuir o estresse dos voluntários, quadro relacionado ao descanso insuficiente nos dias anteriores. Mas o desempenho deles nos testes de atenção foi igual tanto após 6 horas de sono, como depois de 10 horas dormindo.
Mais testes são necessários para mensurar o impacto, a longo prazo, do ciclo de restrição e recuperação de sono nas pessoas. Os autores do estudo ressaltam que dormir pouco pode contribuir para o aumento de hormônios ligados ao estresse, interferir nas taxas de açúcar no sangue e nos mecanismos ligados a inflamações.
O que as grandes empresas oferecem no Brasil?
As grandes empresas já perceberam que devem cobrar resultados e não número de horas trabalhadas, e estão oferecendo um conjunto de benefícios a seus funcionários. Um pacote generoso, e até inovador, de comodidades.
Os benefícios oferecidos pelas melhores empresas eleitas pela consultoria Great Place to Work (GPTW) ,em parceria com ÉPOCA, incluem verba extra para estudos, flexibilidade para trabalhar em casa e internet doméstica. E ainda vantagens criativas, como sessão de massagem, salão de jogos, sala da soneca, happy hour na empresa, eventos esportivos valendo bônus salarial, bonbonnière com salgados e docinhos. Há até verba para decorar a própria estação de trabalho. Tudo para agradar o funcionário e receber positivos resultados na produtividade.
A “siesta” argentina
O hábito de cochilar nas cidades do interior da Argentina é uma das questões tradicionais mais relevantes e culturalmente tem dividido as águas entre moradores que concordam e outros que acham uma perda de tempo.
O ritmo de vida em Buenos Aires, como toda grande metrópole, é muito acelerado. A maioria das pessoas que trabalham na capital portenha, vivem na correria o dia inteiro, para logo chegar em suas casas e se sentirem descansadas. Como os horários de trabalho vão desde 8h ou 9h até às 20h, é difícil tirar um cochilo no meio do dia para aperfeiçoar a produtividade e oxigenar o cérebro.
Existe um velho mito que se originou na Capital Federal há muitos anos, que diz “enquanto Buenos Aires está trabalhando, as outras províncias estão descansando”. Essa crença é uma clara referência para todas as pessoas que fazem rigorosamente o ritual da siesta, em vez de continuar com a correria da rotina diária.
No interior, milhões de pessoas têm o hábito de deitar após o almoço e retornar às atividades laborais a partir das 16 horas – durante este período nada acontece nas ruas. Desta maneira, eles alcançam um repouso relaxante, que elimina o estresse acumulado.
Enquanto no interior da Argentina tirar uma soneca é costume de todos os dias, em Buenos Aires ainda continua sendo uma ilusão. Mas há outros que começaram a dar os primeiros passos para oferecer uma nova tendência na vida corporativa. Spas estão sendo inaugurados na capital argentina com objetivo de oferecer aos clientes a oportunidade de tirar uma soneca durante o horário de trabalho, aproveitando parte do intervalo de almoço do interessado.
O preço é de cem pesos (cerca de R$ 45) por 25 minutos de cochilo e inclui, para os que quiserem, outros 25 minutos de “introdução ao sono”, com atividades como massagens.