Texto e foto por Kamyla Jardim
É inegável que a tecnologia deu um salto extraordinário e mudou completamente a vida das pessoas nos últimos anos. As crianças já nascem em meio a dezenas de aparelhos e sistemas que se reciclam a cada dia. Muitas aprendem a mexer no celular antes mesmo de falar corretamente.
Uma pesquisa realizada por uma empresa inglesa de segurança na internet revelou que, de dez crianças menores de cinco anos, apenas uma sabe amarrar os sapatos, mas sete sabem usar o mouse. Este quadro mostra uma realidade incontrolável. Atualmente é impossível barrar o acesso das crianças às novidades tecnológicas.
O estudo ou o desenho não são mais realizados, respectivamente, em enciclopédias e papéis, mas a tecnologia foi além permitindo a união de uma gama de jogos e brincadeiras na rede. Hoje, os meninos e meninas estão abandonando as brincadeiras antigas para interagir com o novo mundo, formando uma geração mais ágil e com sede de conhecimento tecnológico.
Em 2011, a Suprema Corte dos Estados Unidos concedeu aos jogos de videogame as mesmas proteções constitucionais dadas às artes visuais, filmes, música e outras formas de expressão. Na prática, a medida anula uma lei do estado da Califórnia que proibia a venda e o aluguel de jogos extremamente violentos a menores de idade, afirmando que isso recairia sobre a liberdade de expressão dos fabricantes. Por fim, os juízes deixaram nas mãos dos pais a decisão final sobre a compra ou não do jogo, sem, porém, proibir sua venda, mas incentivando a discussão dentro de casa.
De acordo com a pedagoga Marcia Vieira Flores, não existe uma regra na forma como os pais devem lidar com a invasão das tecnologias no cotidiano dos pequenos, porém a intensa supervisão dos adultos é fundamental. “As tecnologias devem ser utilizadas sempre de forma lúdica e indispensavelmente sob a tutela dos pais e cuidadores. O limite entre o certo e errado deve ser sempre definido pela família, ainda que com a participação e interação da criança, combinando regras”, afirma.
A mudança no comportamento infantil parte de um processo de observação, onde a criança nota o comportamento do adulto em que convive e se espelha. O uso indiscriminado de videogames e jogos online, pode afastar a criança da família e dos amigos, por isso, a pedagoga frisa a importância do limite e das conversas informais com os filhos. E também alerta para não deixar que a criança se afaste das atividades físicas, pois exercícios queimam as calorias, e proporcionam uma maior interação dos amigos nas trocas de experiência.
Apesar de diversos pontos que precisam ser cuidados e controlados na rotina, os pais Everton e Juliana orgulham-se de ver o interesse do filho pelas tecnologias. “Como o Everton é ‘nerd’, o Eric não poderia ser diferente. E isso sempre foi um ponto positivo, temos certeza que a facilidade que o Eric tem em aprender é por causa das tecnologias, ele sempre teve vontade de ler, de fazer contas para poder entender um pouco mais os jogos”, conta Juliana.
O pequeno Eric tem apenas 7 anos, mas seu conhecimento de jogos e tecnologia é vasto. Quando tinha 3 anos de idade pegou um joystick (dispositivo geral de controle, usado para controlar os jogos de vídeo) pela primeira vez. “Mesmo sem noção de como jogar, o Eric ficava com o controle na mão fazendo o Mario andar de um lado para outro. Em seguida compramos um videogame e então o interesse dele foi despertado rapidamente para os jogos”, relembra a mãe.
O videogame escolhido foi o Nintendo WII, pois possui muitos jogos interessantes para as crianças pequenas serem estimuladas, inclusive em questões esportivas, pois possui um controle diferenciado. Para jogar o WII, as crianças precisam reproduzir os movimentos, para assim mover os personagens.
Com relação a disciplina, os pais de Eric revelam terem criado pequenas regras, que são seguidas a risca pelo pequeno. “O Eric é muito disciplinado, instruímos que ele não deve jogar jogos com violência e ele respeita. Quanto à internet e às redes sociais, ele não tem acesso, pois acreditamos ser muito cedo”, afirma Everton.
Um dos pontos ressaltado por pesquisadores que analisam a nova geração é o problema de convivência social gerada pelo intenso uso das tecnologias. Os pais de Eric concordam que os jogos podem limitar a vida social, porém afirmam ser uma questão muito fácil de lidar, se há uma relação agradável e de respeito entre pais e filhos. “Ficamos sempre atentos ao tempo que ele passa com as tecnologias. Ele é uma criança ainda, quando visitamos parentes, se deixarmos, obviamente, ele ficará nos jogos, mas chamamos a atenção, negociamos e ele acaba tendo uma vida social totalmente normal”, evidencia o pai de Eric.
Na escola, o pequeno Eric é destaque e, segundo os pais, por mérito dele e das tecnologias: “Na primeira reunião de avaliação, ficamos até um pouco constrangidos, pois a professora ficou muito tempo elogiando o Eric. Em função disso, o presenteamos com um novo jogo para o seu videogame portátil 3DS. Na última reunião, ela disse que ele continuava em destaque, somos muitos orgulhosos dele e acreditamos que a tecnologia influenciou muito positivamente para isso”.
O Eric é um exemplo de que, por mais que os avanços modernos assustem alguns pais de plantão, não há necessidade de barrar o uso das tecnologias. A infância é o começo do desenvolvimento e muitos aspectos importantes precisam ser traçados neste momento. Brincadeiras antigas podem e devem ser resgatas, mas a tecnologia também precisa ser inserida, contanto que haja uma conciliação dos dois, mantendo, desta forma, uma vida saudável e social com grandes investimentos no raciocínio rápido e na preparação para o futuro tecnológico.
Auxílio para os pais na era da internet:
O número de crianças brasileiras que acessam tecnologias como computadores e celulares vem crescendo a cada dia como mostra a pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil, onde 65% das crianças de 5 a 9 ano usam algum aparelho móvel e 57% acessaram alguma vez na vida um computador.
Pensando neste público as empresas já estão se preparando para atendê-los, visando uma navegação mais adequada as suas idades e que não mostre resultados insatisfatórios para os pais, pois sabe-se que a internet é perigosa para as crianças. Um exemplo é o buscador feito especialmente para as crianças e com aprovação total dos pais, o “kidRex” do Google, onde as crianças podem fazer suas buscas na internet livremente que o mecanismo filtra os conteúdos impróprios e mostra somente links permitidos para as crianças.
E as redes sociais?
Uma pesquisa realizada em cinco países onde há fácil acesso à internet, apontou que as crianças brasileiras são as que acessam mais cedo as redes sociais. A média mundial é de 12 anos, idade em que os pequenos começam a ter contato com a internet e sites de relacionamento, enquanto no Brasil essa média cai para 9 anos.
O estudo denominado “Internet Safety for Kids & Families” (Segurança de Internet para Crianças e Famílias), foi realizado pela empresa de segurança Trend Micro. Na Índia, as crianças começam as atividades nas redes sociais a partir dos 14 anos, já em países como Austrália, França e EUA estão dentro da média. No Brasil, 6 de cada 10 pais permitem que seus filhos tenham perfis em sites desse tipo. Além disso, 9 entre 10 pais brasileiros afirmaram ser “amigos” dos filhos nas redes sociais com o intuito de facilitar o monitoramento. E o monitoramento nunca é excessivo neste caso.
Uma mãe que preferiu não se identificar para preservar a imagem do filho de 9 anos, contou a Revista Mais Matéria que já passou por situações negativas com relação ao perfil do filho nas redes sociais. “Todos os amigos dele já estavam conectados na internet e, consequentemente, no facebook, eu também possuo um perfil e pensei que talvez não teria mal algum meu filho participar. Acertamos que eu teria a senha do perfil dele para assim poder ver com quem ele conversava e se conectava pela internet, porém em um desses monitoramentos constantes que eu realizava, encontrei uma conversa estranha do meu filho com um outro ‘menino’ que dizia ter a mesma idade e desejava fazer novos amigos. Pelo tom e assuntos da conversa, logo percebi que não se tratava de uma criança e fiquei assustada. Conversei com meu filho para ver se ele tinha percebido algo de estranho e graças a Deus pude interromper outras conversas a tempo, bloqueando este perfil suspeito dos amigos do meu filho. Mesmo com este episódio, me sinto tranquila, pois tenho uma relação muito aberta com meus filhos e estou sempre alerta para os possíveis perigos que a internet pode trazer para dentro de nossa casa”, relata.