| Por Aline Peterson
Professora de Inglês e Português e Mestre na área de Literatura Comparada
Mr. Nobody é um filme de 2009 do diretor belga Jaco Van Dormael. O personagem Nemo Nobody, interpretado por Jared Leto, tem o dom de saber o que vai acontecer diante de cada decisão que toma. Nemo agora tem 118 anos, vive no ano de 2092 e é o último mortal da terra, depois que a raça humana alcançou a imortalidade. Ele nos conta sua vida através das memórias que coleciona, lembranças de uma vida repleta de cenários distintos. Através de seu relato, conhecemos a vida dele, ou melhor, suas muitas vidas, por meio dos universos paralelos que vão surgindo, consequência das diferentes decisões que ele toma ao longo da narrativa. Através das memórias de Nemo, juntamos pedaços de sua infância e adolescência e descobrimos os caminhos para os quais suas decisões o levam. A vida de Mr. Nobody não é apenas aquilo que aconteceu com ele, sua vida é tudo o que poderia ter acontecido.
Passamos a vida inteira com certa fixação em fazer a escolha certa. E a dificuldade que percebemos ao tomar decisões talvez exista por pensarmos, muitas vezes, que temos um destino definitivamente traçado. Essa certeza faz com que acreditemos que não devemos ou não podemos fazer nada que possa nos desviar desse destino, nos afastar do futuro já escolhido para nós. Vivemos uma constante indecisão: não sabemos o que escolher, por medo de fazer a escolha errada. E quando escolhemos, não importa o resultado, dizemos que é o destino, era para assim ser. Dessa maneira, buscamos sentido para todos os fatos aleatórios que acontecem em nossas vidas, tentando dar significado para cada um deles.
Em vez de um destino traçado, poderíamos, assim como Nemo, estarmos diante um emaranhado de possibilidades, sem que nenhuma delas fosse mais correta ou mais verdadeira do que outra. No entanto, sentimos o encargo de escolher o certo, sem ter ideia do que realmente é certo. E quanto mais escolhas são feitas, mais os caminhos vão se estreitando, diminuindo-se as possibilidades, já que chegamos cada vez mais perto desse tal destino traçado para nós. Então, apenas continuamos. Mr nobody sabe o resultado de cada decisão sua. Entretanto, sua hesitação acerca das escolhas a serem tomadas parece ser tão difícil quanto a de quem não tem ideia do que virá depois de um caminho tomado. Nós, como espectadores, fazemos parte do filme, na inconstância do tempo e da realidade presentes nele. Fazemos parte do filme porque podemos ajudar Nemo a decifrar qual caminho ele seguiu, podemos ajudá-lo a esclarecer a confusão de sua memória através de nossos impulsos enquanto observadores.
Nemo Nobody é alguém que não existe, possivelmente pelo contraditório fato de existir demais, já que fica frente a frente a todas as suas possibilidades. Nemo faz com que nos percebamos nele. Talvez porque ele, sendo ninguém, acaba por ser muitos; ou talvez porque, por vezes, questionamos, assim como Mr. Nobody, a nossa existência.