Texto por Rita Trindade | Fotos arquivo pessoal
A arte de narrar histórias é indissolúvel, pois estabelece uma relação direta com a psique humana. Na origem da humanidade, os sons que retratavam os fenômenos da natureza, imitados posteriormente pelo homem primitivo, fez com que a necessidade da comunicação entre eles fosse essencial para o desenvolvimento da própria raça. Sobre isso, Shedlock diz que “a narração de histórias é uma das artes mais antigas do mundo”. Por este prisma, pode-se dizer que a narrativa oral precede a história do próprio homem.
A história narrada oralmente penetra profundamente no inconsciente, despertando nossos instintos e provocando nossa imaginação para atuar juntamente com a voz do narrador. Assim, ao criarmos imagens, desenhos mentais, cada ouvinte, a partir de suas experiências e vivencias, constrói seu próprio universo.
Rosane Castro atua como contadora de histórias há sete anos, mas sempre contou histórias nas suas aulas de teatro, portanto, a escritora tem uma trajetória de mais de 15 anos de contação de histórias. “Desde que comecei a contar profissionalmente, iniciei um processo de pesquisa sobre o ato de contar histórias. Um aprofundamento histórico e responsável, com embasamento teórico e com muita, muita prática”, revela a contadora. A revista Mais Matéria bateu um papo com Rosane sobre a importância de contar histórias para crianças. Confira a entrevista.
Qual é a importância de contar histórias na escola?
É na escola que a criança tem mais acesso aos livros literários. Através de projetos de incentivo à leitura, ou atividades de contação de histórias, o aluno tem contato com a oralidade e com a escrita. Oferecer aos alunos momentos de contação de histórias é fundamental para seu desenvolvimento cognitivo e afetivo, pois o ato de contar, além de estimular a imaginação e criatividade, também proporciona um momento lúdico e de interação entre quem conta e quem ouve. Contar histórias deveria ser um hábito cotidiano na escola, porque amplia o conhecimento do aluno e colabora para sua formação como indivíduo. As histórias são um reflexo da própria vida.
E na família?
É na família que a criança tem contato com as primeiras histórias. Os estímulos recebidos são fundamentais para o desenvolvimento da criança. Ela tem, através da voz dos pais, os primeiros contatos com o universo oral. Depois passa a se reconhecer pertencente àquele grupo através das histórias que ouve sobre sua família e sobre a sua própria história. Portanto, contar histórias ajuda no desenvolvimento da criança, além de ser um ato de amor.
Tu percebes que existe alguma diferença entre crianças que ouvem histórias desde pequenas e crianças que nunca ouviram?
Percebo. Durante as minhas oficinas com crianças e apresentações, aprendi a reconhecer alguns casos. Há crianças extremamente dispersivas, com pouca concentração. Há crianças que ficam em silêncio durante a contação e ao final pedem para ouvir outra história. Crianças habituadas a ouvir histórias têm mais concentração, conseguem acompanhar a trajetória do conto, conseguem interagir ao final da atividade, são participativas, desenvolvem raciocínio lógico, divertem-se com a história. E as crianças que não ouvem histórias são mais impacientes e não conseguem se concentrar. Tudo é uma questão de estímulo e hábito. Claro que, depende também da experiência com a narrativa oral. Se o professor/contador não conseguir cativar a criança, isso pode causar uma experiência negativa.
Tu achas que as escolas devem abrir mais espaço para a contação de histórias?
Claro. A escola deveria adquirir o hábito cotidiano de contar histórias. Aliás, as contações deveriam ser utilizadas em todas as disciplinas. A estrutura de um conto colabora para contextualizar várias situações. E, à medida que, o professor descobre as possibilidades de uma contação de histórias, a aula passa a ser mais interessante, dinâmica e divertida. Além de contribuir para desenvolvimento das habilidades de criação do aluno, cria-se vínculo entre professor e aluno.
Qualquer pessoa contar histórias?
Todas as pessoas contam histórias. Histórias pessoais, histórias que leram, ouviram. Agora, para se tornar um bom contador de histórias profissional, é importante desenvolver técnicas que colaborem para melhorar o desempenho e performance. Há livros que tratam da importância de contar histórias, e essas leituras são essenciais para a formação do contador. Ampliar o seu conhecimento é fundamental. Um contador responsável é aquele que compreende o porquê de contar histórias, pois pesquisou e se inteirou do assunto, e sabe que a humanidade se constitui através da preservação da memória através da história.